Estes dias estava conversando com um ex-professor (na
verdade um eterno professor, porque uma vez meu professor, será sempre meu
professor) e falando das coisas da vida ele comentou que como eu também não vê
motivos para risos no mundo atual.
Vou explicar melhor:
Algumas pessoas acham meus escritos taciturnos e que tenho uma linha de
escrita um tanto depressiva. É fato. Tanto que quando escrevo alguma coisa com
personagens, normalmente eu os mato no final. Não há como.
Na verdade isto não demonstra, no meu simplório ver, qualquer sinal de ausência de bom humor ou um estilo de vida típico
dos deprimidos. Ajo puro e simplesmente com a realidade e não vejo motivo algum
para risos nos dias atuais, não só nos meus dias, mas nos dias do mundo.
Quando nascemos, a merda é que não nos entregam um manual de
como é viver.
Depois sabemos que uma vez nascidos e estando neste plano
temos um intervalo que é viver e um final que é inevitável --- a morte.
Neste intervalo, somos obrigados a descobrir sozinhos por
nossas experiências o que fazer com este tempo.
Uns transformam aquilo que seria porta aberta para o abismo
em ponte para o desenvolvimento. É a velha estória de transformar limão em
limonada --- alguns recebem um pomar inteiro, e haja açúcar para adoçar, outros
na ausência do açúcar arrumam bicarbonato de sódio e com isto pelo menos tiram
a acidez.
Outros agem como se não soubesse o final de toda história.
Nascimento, intervalo e a morte.
Então sendo uma pessoa extremamente racional, não sou um
deprimente que escreve, sou um realista que relata fatos. O único detalhe é que
nunca escrevo em primeiro plano, é preciso sempre entender o que eu quero
dizer, e digo nas entrelinhas ou para que seja decifrado.
Já escrevi, que as emoções,--- todas,--- são a desgraça do
mundo desde os tempos de gondwana, tudo o que fez ou faz mal ou mau para os que
habitam este planeta foi ou é regido pela emoção. Alguns dirão que os racionais
então não amam. AMAM, porque o amor é totalmente racional. A prova disto é que
os racionais são mais conservadores e quando desistem de uma situação dita estável,
é porque as emoções da outra parte os incomodam demais. E sua razão
naturalmente vai buscar uma nova estabilidade. São pessoas que não se conformam
em suas zonas de conforto e buscam a inovação sempre. Não são conformistas nem
conformados. Giram como gira todo o universo. Racionaliza os fatos e sempre
tomam decisões pensadas, mesmo aquelas que consumiram um átimo, vez que as experiências
adquiridas e muito bem ajustadas em seus cérebros permitem uma ação rápida com
todas as implicações que podem estas decisões acarretar. E são extremamente
éticos não tiram proveito de ninguém, e são sempre sinceros.
Mas voltando a falta da porra do manual no nascimento,
algumas pessoas não sabem como agir no aprendizado e tomam decisões que
carregarão para o resto do intervalo e se enterram com eles, agindo conforme os
momentos, não vendo que a frente, se derem mais um passo, estarão caindo em um
abismo. Pouco ou nada se importando como o fato atinge a eles mesmos ou aos
demais. Os que aprendem podem enfrentar duas situações: Recuam quando o momento
não é oportuno ou então assume, racionalmente, uma situação mesmo que isto fira
toda a lógica imediata.
Nos últimos dias tenho visitado diariamente uma UTI e a cada
dia um novo quadro se apresenta. Uns partem para os leitos hospitalares, outros
deixam o planeta, cedendo o box para mais um que tem que aprender um pouco mais
ou fazer a prova final. Vejo pelos corredores o choro e desespero das pessoas,
a dificuldade em autorizar que os aparelhos sejam desligados, as esperas pelo
médico para a assinatura no último documento e por ai caminham. Não aprenderam
muito.
Não é questão de desdenhar o sofrimento dos demais, é
entender que não leram o manual no intervalo. Não temo a morte, também não me
assombro quando isto ocorre com outros, porque aprendi que isto é a parte
final. Simples assim. Não é insensibilidade, é a razão. Se nada pode ser feito,
tudo está feito.
Então depois de tudo escrito, espero que entendam o que
penso: Não deixe para os dias finais as últimas lições e não queiram levar
consigo o mal ou o mau que fizeram. O tempo é agora, o intervalo.
Uma coisa que não precisa de interpretação e muitos nunca se
atinaram a isto: Jesus como homem, antes do suspiro final, perdoou aquele que
teve a humildade de reconhecer seus erros, mas não aquele que se calou. Provavelmente
o calado em seu orgulho achou uma “boa razão” para seus feitos e pensou ter
transferido a culpa.
ELIas, janeiro de 2013