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O Mestre e o Discípulo andaram muito e chegaram à Zona da
Mata ainda lá nas Alterosas.
Aproximaram-se do rio e refrescaram-se na Cachoeira da Onça,
visitaram a pequena polis suas praças
centenárias, souberam que tivera início mais pujante (?) depois da Lei Áurea. E
que muito tempo depois, bem depois, tornou-se município e recebera o nome do emancipador e como o Brasil de modo geral
adotou o sufixo grego polis para
definir nome de cidades, diferente dos berg
e burg de origem saxônica, por isto o
nome da cidade da paragem.
Descansaram olhando e contemplado a beleza da região por uns
dias, estavam exaustos.
O mestre olha para o discípulo que notou estar muito
pensativo e em seu modo acolhedor perguntou:
--- Pequeno Gafanhoto estás pensando em quê?
O discípulo desviando o olhar para o chão, não querendo
mostrar os olhos marejados respondeu:
--- Mestre me desculpe, mas tenho saudades. Saudades daquilo
que não tive, saudades daquilo que está no futuro, saudades do que era antes.
--- Saudades do futuro? Bem interessante. Mas isto é possível
sim, quando sua zona de conforto está abalada e você quer mudanças. Isto se
chama esperança. Você sonha com uma plenitude que acredita estar no amanhã. É
comum e ela se consumará ou consumirá a tua alma. Reaja e aja. A vontade, a fé
e a esperança são coisas intangíveis, mas muito poderosas. Vá em frente, não
fuja dos espinhos, não fuja da grande noite sem luar que se instalará em seu
coração, toda noite negra um dia termina, mesmo que seja dentro de um jazigo,
mas de qualquer maneira lutastes. Os medrosos chegam ao mesmo jazigo e não se
orgulham de terem lutado, não se sentem humilhados por não vencerem. Já os
corajosos, terão uma bela história para contar ou para contarem e mesmo não
vencendo serão vencedores. Terão orgulho disto e não terão vergonha por
perderem. Foram os fazedores, os criadores, porque assim são todos os fortes.
Quanto à saudade do que era antes e já não o é, tenho que
lhe dizer que procure dentro de você as respostas, talvez não as ache por que
não foram situações que você criou, mas você viveu tudo aquilo, e esta saudade
não tem como ser resolvida, sendo sua ou não a ação que fez mudar o que foi.
Mesmo que você volte a viver aquilo que vivestes nunca mais serão os mesmos
momentos, nunca mais será a mesma coisa, seja que coisa ou situação for. Mas
neste caso a sabedoria, a tolerância, a compreensão que adquirirás ao longo do
tempo serão suporte para a dor que por certo estará em seu peito, pelo tempo
perdido, pelo ocorrido. O tempo, embora a teoria da relatividade confirme seja
possível retroagir, ainda não conseguimos tal intento e mais difícil ainda será
retroagir individualmente, se te acontecer de ter novamente, apenas viva estes
momentos, o que foi perdido está perdido para sempre, para a eternidade. O que
foi feito está feito para sempre, para a eternidade. Apenas perdoe e viva,
perdoe você mesmo e a situação. Perguntará-me perdoar o que não fiz? Responderei-te
que não; perdoe o tempo que perdestes, os momentos que não vivestes, o tempo em
que viveram em teu lugar. Só isto. E mais, saiba que não viveram em teu lugar,
nunca houve substituto para alguém. O que foi vivido foi uma mentira, um
engodo. Mas viveram com a sensação de que era você, uma vida doida e doída.
Quanto a saudade do que você não teve, desta te falo que as
circunstâncias, o momento não permitiram que estivessem ao seu alcance. Não era
seu tempo. Sabe aqueles pés de figo em que ficavas embaixo olhando para a mata
e tão criança pensavas no amanhã e que aquele amanhã que foi o ontem, é o hoje e será o amanhã? Pois
bem, Gafanhoto, foram nestes momentos que moldastes o homem que és. E seus
amigos anjos que te visitavam e que continuam até hoje? Não te abandonaram, nem
te abandonarão. Mas, mais uma vez poderá interrogar-me; e por que não fazem
nada? Ao que eu te responderia: Anjos não tem autorização para mudar nada,
apenas cumprem uma tarefa celestial. Se não forem anjos, forem algo além disto,
são enviados de Deus e não poderão fazer nada sem que lhes seja permitido.
Poderão te mostrar coisas, te contar da vida, te orientar, mas nunca sem a
devida autorização poderão impedir qualquer coisa que seu (ou de qualquer um) livre-arbítrio quiser
fazer depois que eles admoestarem. Você até sabe o nome deles, pergunte o que
quiser, eles te responderão isto. Eles te visitam porque assim foi ordenado. Mas
só para complementar o que disse: Aquilo que vias debaixo daqueles pés de figo,
nos carreadores que cortavam as matas, enquanto caminhava nas manhãs com pés
descalços na grama coberta por gelo enquanto a barriga roncava de fome, e
quando seus colegas de classe que zombavam de suas vestes, não foram e não estão sendo realizadas?
Retrucarás mas isto é no material e no resto? Eu te digo que tens agora o que
projetastes e terás o que projetardes agora. Projete só o material e terás
isto, projetes apenas a felicidade e todo o resto vem junto.
O Gafanhoto levantou os olhos do chão e lágrimas escorriam,
olhou para o mestre e num longo abraço o agradeceu.
Estava mais aliviado.
Retornarem à cachoeira, estavam olhando para a montante e
observaram uma cena curiosa:
Por entre as sombras um vulto, observaram melhor. Notaram
ser uma mulher.
Sem se aproximar simplesmente se foi.
E foram todos os dias.
E nunca mais voltaram assim como também ela não voltará
igual àquele dia.
De longe espia, mas não entende.
O discípulo meditou e viu um mundo diferente,
viu o amanhã
reluzente.
ELIas, 15 de maio de 2013
Por estes dias tenho andado com saudades de meu irmão
primogênito que faleceu tão cedo com apenas três meses. Ah! Se eu tivesse você aqui Daniel, teríamos
tantas coisas para conversar. Coisas que só se fala para irmãos.
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