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domingo, 27 de maio de 2012

Um fardo, um parto, um quarto


Um fardo, um parto, um quarto

Abri a porta e entrei.
A sala é grande e várias pessoas trabalham nela. Mas já é noite. Ele está sentado à sua mesa de trabalho reunido com dois empregados. Duas novas empresas foram adquiridas e eles traçavam metas. Ele brinca comigo sobre meu cabelo. Sinto uma estranha satisfação, um sabor de vingança com um misto de poder e superioridade.
“Eu tenho um segredo e ele nem imagina”, pensou. Isto faz o coração acelerar, uma emoção, um prazer.
Naquela mesa está sentado ele.
Há cinco dias ele foi meu socorro. Esqueço-me,  mas ele sempre esteve presente quando precisei. Fora um rápido pensamento que sempre era esquecido. Na penúltima vez um caso sem nexo, um conto de um lugar impróprio e estranho para se contar, onde até sua vida fora pensada em tirar. Uma mentira, e mensagens. Ele se fora. Não era o que ele queria, mas eu assim quis. Dias antes, na volúpia tanto esperada e que tanto tempo durara, a levara para uma sala cheia de apitos, gente de branco, cuidados especiais. O pequeno pedaço de material enzimático que a mantinha viva se soltara e quem poderia isto notar entre tantas alegorias circenses?
Mas naquela mesa está sentado ele. Estou fraca, nosocômios não são spas.
Subo e quando desço o encontro no portão fechando ainda seus assuntos. Ele elogia minha beleza e elegância. “Ah se ele soubesse...” Vou com as mesmas emoções já descritas. Minto. Em uma esquina não é o carro que acelera é o coração que quase fibrila. Uma alegria, um encontro feliz, duplamente feliz, roçar de corpos, beijos ardentes.
Desmaio e sou socorrida. No aconchego sou confortada. E ele? Ah! Uma lembrança, os veículos quase se tocam na rodovia.
Tudo gira a partir de então em um grande carrossel sem controle, desesperado e ansiado.
Mantenho tudo como antes, tudo velado.
Ela pensava assim, ele não.
Um dia fora preciso tomar uma decisão. A parte prática assumiu sua posição.
Mas o lençol que a tudo vedava eu mantive.
E “naquela mesa está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim”. Mas mantenho tudo como dantes e novamente o carrossel. Só que desta vez ele gira tombando para os lados como se bêbado estivesse. E eu quero assim mesmo, e eu também tenho ele.
Com você não, com ele sim. Um prêmio, uma loucura, duas loucuras. Sai que eu vou. Uma compensação, a morte por perto, um mundo incerto. Palavras bonitas de antes, agora eu busco e já não as ouço. O que há? Um corpo.
Lugares estranhos, lugares sagrados. Lugares amados. Vamos?
Eu não sabia, mas ele sabia e mantinha em segredo. 
As palavras bonitas ele dizia, com dor mas dizia, eram sinceras mas ela não as ouvia. Queria a dor.

ELIas em um momento qualquer.

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