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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A Biruta biruta


O importante é a biruta estar sempre cheia.
Ney Matogrosso cantou que os ventos do norte não movem moinhos, mas pilam, isto ele esqueceu de cantar. Os místicos afirmam que o norte é escuro, é sombras. Os chineses afirmam que o vento traz doenças, tanto que a medicina tradicional chinesa dá nome de vento frio, vento quente, vento úmido, vento seco para algumas enfermidades. E o vento norte, escuro e sujo pela poeira e fragmentos imprestáveis ainda é pior.
Por que será que as mariposas voam na noite? As borboletas...
Mas a biruta estar sempre cheia é o que importa. O vento é novo e se renova. Ela aproveitou-se das correntes termais para nele flutuar. Fechou os olhos e viu seu corpo em pleno êxtase, não querendo ver que as termais já haviam formado uma película de cinzas em sua pele. E quanto mais pairava neste horizonte, mais grossa se tornava a película até que não fosse fácil remove-la.
A consciência é sábia. Avisa uma vez severamente, avisa na segunda vez já mais brandamente e na terceira vez informa apenas que está tristemente saindo para dar lugar ao livre arbítrio. Isola-se (a consciência) e permanece em um canto qualquer até o dia em que o livre arbítrio já farto de suas ações retira-se e então é a vez da consciência novamente se expor e cobrar, cobrar duramente o que não foi ouvido ou respeitado.
Ah! como é bom levitar dizia ela. E de olhos que não querem abrir, e tomada pela pífia sensação de bem estar, não quis observar que as termais eram formadas pelo abismo e o que a mantinha no ar era na verdade o calor emanado do fundo deste “poço-sem-fundo”.
E nas noites serenas atormentadas, escuras de lua cheia, como as mariposas vão, ela ia. Por vezes em dias ensolarados, enegrecia-os para também neles fazer seu feio voo.  Não pousava em flores, pousava em dejetos porque este é o lugar que buscava. E de dejetos em dejetos, mesmo a céu descoberto, pela noite encoberto pousava e alçava.
Que alegria odiosa, que prazer rancoroso. Um voo para o inferno.
Cordas foram lançadas do alto, mas ela não quis agarrar. Resvalava apenas e deixava que fossem recolhidas tantas vezes quantas foram as vezes em que foram lançadas.
Colocava sobre os ombros do mundo seu horrendo voo, mas a biruta cheia era o que interessava.  Entrou em estol e caindo sobre pedras pontiagudas machucou-se mais, mas mesmo assim alçou seu desengonçado e vergonhoso voo noturno como convém às mariposas.
A biruta cheia de poeira e detritos ao pilar deixou as marcas dolorosas. Tornou-se surda e muda, sente as dores, mas não quer o remédio. Quando o vento amaina, a velha biruta esvazia-se e então a saudade do vento de outrora renasce e a sensação de flutuar é desejada novamente.
Nunca aceitou navegadores para sua orientação, seu voo não tem registros e não pode ser publicado. Aceite ou morra este é o tema. Este é o bordão.
Isto foi uma narração.

ELIas, 28 de novembro de 2012

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