O importante é a biruta estar sempre cheia.
Ney Matogrosso cantou que os ventos do norte não movem
moinhos, mas pilam, isto ele esqueceu de cantar. Os místicos afirmam que o norte é escuro, é sombras. Os
chineses afirmam que o vento traz doenças, tanto que a medicina tradicional
chinesa dá nome de vento frio, vento quente, vento úmido, vento seco para
algumas enfermidades. E o vento norte, escuro e sujo pela poeira e fragmentos
imprestáveis ainda é pior.
Por que será que as mariposas voam na noite? As
borboletas...
Mas a biruta estar sempre cheia é o que importa. O vento é novo e
se renova. Ela aproveitou-se das correntes termais para nele flutuar. Fechou
os olhos e viu seu corpo em pleno êxtase, não querendo ver que as termais já haviam formado uma película de cinzas em sua pele. E quanto mais pairava neste
horizonte, mais grossa se tornava a película até que não fosse fácil remove-la.
A consciência é sábia. Avisa uma vez severamente, avisa na
segunda vez já mais brandamente e na terceira vez informa apenas que está
tristemente saindo para dar lugar ao livre arbítrio. Isola-se (a consciência) e
permanece em um canto qualquer até o dia em que o livre arbítrio já farto de
suas ações retira-se e então é a vez da consciência novamente se expor e
cobrar, cobrar duramente o que não foi ouvido ou respeitado.
Ah! como é bom levitar dizia ela. E de olhos que não querem
abrir, e tomada pela pífia sensação de bem estar, não quis observar que as
termais eram formadas pelo abismo e o que a mantinha no ar era na verdade o
calor emanado do fundo deste “poço-sem-fundo”.
E nas noites serenas atormentadas, escuras de lua cheia,
como as mariposas vão, ela ia. Por vezes em dias ensolarados, enegrecia-os para
também neles fazer seu feio voo. Não
pousava em flores, pousava em dejetos porque este é o lugar que buscava. E de
dejetos em dejetos, mesmo a céu descoberto, pela noite encoberto pousava e
alçava.
Que alegria odiosa, que prazer rancoroso. Um voo para o
inferno.
Cordas foram lançadas do alto, mas ela não quis agarrar.
Resvalava apenas e deixava que fossem recolhidas tantas vezes quantas foram as
vezes em que foram lançadas.
Colocava sobre os ombros do mundo seu horrendo voo, mas a
biruta cheia era o que interessava. Entrou em estol e caindo sobre pedras pontiagudas
machucou-se mais, mas mesmo assim alçou seu desengonçado e vergonhoso voo noturno
como convém às mariposas.
A biruta cheia de poeira e detritos ao pilar deixou as
marcas dolorosas. Tornou-se surda e muda, sente as dores, mas não quer o
remédio. Quando o vento amaina, a velha biruta esvazia-se e então a saudade do
vento de outrora renasce e a sensação de flutuar é desejada novamente.
Nunca aceitou navegadores para sua orientação, seu voo não
tem registros e não pode ser publicado. Aceite ou morra este é o tema. Este é o
bordão.
Isto foi uma narração.
ELIas, 28 de novembro de 2012
ELIas, 28 de novembro de 2012
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