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terça-feira, 30 de abril de 2013

O mestre e o discípulo




Continuando com o Mestre e o Discípulo.
Ainda nas Alterosas, o Mestre e o Discípulo continuaram andando.
Estava anoitecendo e eles precisariam rapidamente encontrar um abrigo. Normalmente os mestres e discípulos saem sem se preocupar com estas futilidades de conforto. Levavam apenas algum alimento e a água iam abastecendo seus cantis quando achavam uma casa ou uma fonte. Nas Alterosas é muito fácil encontrar boas fontes de água e naquele cerrado era possível também encontrar  frutas em abundância, raízes e algumas suculentas que eles conheciam bem.
Quando o sol estava a um metro da linha do horizonte, tornou-se premente  acharem um bom lugar. Deveria ser uma gruta ou um espaço aberto, onde pudessem fazer uma fogueira. Galhos secos havia a disposição. Encontraram um recôncavo e após analisarem deram-se por satisfeitos.
O discípulo apanhou alguns galhos e montou uma pequena pira. Deixou de lado uma pilha de galhos para alimentar o fogo quando fosse preciso. Ateou fogo enquanto o mestre descascava alguns frutos que haviam colhido ao longo do caminho.
Comeram as frutas em silêncio, não sem antes agradecerem a Providência que as dispôs para os famintos, homens e animais que perambulam pelo sertão.  Fizeram uma breve meditação e foram descansar.
O mestre notou que o discípulo estava insone e perguntou:
--- Pequeno Gafanhoto, porque é que estás tão inquieto?
--- Mestre é que estou pensando e o sono me fugiu e não chego a conclusão alguma.
Neste ínterim um farfalhar de folhas é ouvido não muito longe deles. O discípulo assustado, em um sobressalto levanta.
O mestre com a tranquilidade que é comum aos iluminados o acalma dizendo; --- é apenas um animal a passar, não se preocupe, com a fogueira na entrada ele não nos atacará. Mas deite-se novamente e me diga o que o inquieta.
--- Mestre o que torna as pessoas infelizes?
--- Há vários motivos Pequeno Gafanhoto, te direi algumas, as demais você aprenderá com o tempo, e como disse, entre outras, são: a ganância, o desejo de riquezas para seu uso próprio, utilizar-se de recursos de outrem para o seu bem próprio e dos seus, não entender que aquilo que se tem é apenas emprestado e que deve ser repartido,  e no sentido mais da natureza humana temos a vaidade, o orgulho, a dominação, a imposição ao mais fraco, a falta de caráter, a falta de compaixão, se bem que algumas estão misturadas as outras.
Houve uma pequena pausa e o discípulo novamente:
--- Mestre, falo da infelicidade mais próxima, mais afetiva.
--- Imagine o seguinte Pequeno Gafanhoto: Dois corações incompletos e abertos, um esperando o outro. Um precisa entrar no outro para se completarem. Mas um deles carrega sobre os ombros um tronco já apodrecido, que de nada mais serve e sobre ele estende os dois braços, logo, não há como entrar no outro coração, a largura formada por esta apresentação é muito larga. Imagine também que um deles é limpo e quando vai recebê-lo nota que o outro andou chafurdando e ele o aceita desde que antes, como se fazem nas mesquitas e outros locais, este venha a banhar-se e tirar toda sua sujeira. Imagine agora, que um deles é muito pesado,
O discípulo o interrompeu:
--- Mas para ser feliz é preciso ser magro mestre?
O mestre com um sorriso continuou; como eu dizia, um deles é muito pesado a ponto de que se entrar pela porta aberta que o recebe poderá fazer com que pare de bater. Não falo de peso físico, não falo de moléculas, átomos, por que o elemento mais pesado não é um elemento químico e nem está na Tabela Periódica,  refiro-me a consciência o mais pesado dos elementos  até hoje encontrado quando ela é excruciante ao voltar e tomar o lugar que sempre foi dela e que uma vez abandonou, por não ser ouvida,  para o livre arbítrio.
--- Então Pequeno Gafanhoto, as pessoas são infelizes por que não se desfazem daquilo que já não presta mais e se mantém presos a elas, por que não se limpam e só há uma maneira de ter a consciência leve mesmo depois que o livre arbítrio tenha tomado conta. Mas isto você já sabe, não é?
O discípulo assentiu com um gesto.  E ele já sabia mesmo.

ELIas, 30 de abril de 2013

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